terça-feira, 27 de julho de 2010

The memories ease the pain inside.

O amor é um sentimento puramente brilhante. A paixão é o ápice, a excelente e formosa ambição de possuir algo, não obstante à volição alheia. Animais racionais como eu, o bucólico resultado de uma iniqüidade, residem em uma atmosfera distante e complexa, onde amor é apenas sinônimo de transpor os limites da racionalidade. Em um determinado momento criamos um vínculo com a pessoa amada, tornamo-nos desvairados. Um absorve do outro o necessário para continuar inerte. Pude assistir sua veemência tingir sua tez macia de vermelho, enquanto meu egoísmo tingia minha alma com as cores que nunca fizeram parte de mim. Trouxe-me eloquência, uma razão colossal para que minha incomensurável afeição prosseguisse em sua deslocação interminável. Fui capaz de almejar com minha enleada visão quimérica um futuro, não me permiti avistar um fim. Nunca haverá um fim, apenas períodos interrompidos por sorumbáticas ocorrências. Deixar-te-ei explanado aqui a imponência e a veridicidade de meus sentimentos; tais sentimentos que nunca pude ultimar. Eu a amei, Ariana. Em medidas extremas, infindáveis e corrosíveis. Eu a quis, eu a quis sem entrave algum. E, antes a qualquer jurisdição, eu a protegi. Durantes meses fui competente a ocultar-te a minha verdadeira face, face amaldiçoada que fere os homens sem piedade alguma. Exerci meu papel afetuosamente. Eu lhe protegi de minhas aleivosias, sacrificando-me diante dos fantasmas que eu mesmo criei. Eu lhe amei mais que qualquer outra pessoa presente em minha vida, mas amor não nos fora suficiente, então eu lhe entreguei corajosamente minha não tão vivaz vida. Dei-te minha vida, e durante muitos amanheceres desejei tirar a sua. Blasfemei aos anjos por tê-lo feito; arrependimento escorreu livremente por meu semblante. Meus sórdidos apotegmas adquiriram a capacidade de odiá-la, em meu interior houve uma grande concentração de odiosidade. Atualmente encontro uma lógica para tais sentimentos rancorosos: eu lhe odiei, pois a amava. Amava tanto que o amor foi incapaz de conduzir tantos sentimentos em sua vastidão - que, afinal, nunca fora tão vasta assim. Eu ainda a amo, não seria capaz de introduzir aqui o passado de um verbo que só pode ser conjugado no presente. Excluo o futurismo, ele está distante demais. A sinfonia que embala minha noite são apenas canções póstumas de um pecador em seu torpor. Já não sou capaz de distinguir o odor presente no recinto, está entre o oxigênio que se torna escasso e a nicotina que forma nuvens cancerígenas, deixando-me íntimo da Morte. Eu registraria aqui as minhas consternações, caso elas já não fizessem parte de minha rotina. Eu redigiria aqui o epitáfio aflito de uma alma atormentada pelo amor, caso a minha abantesma ainda me fosse propriedade. Os laços criados entre nós ainda me mantém aqui, anexado aos nossos amores, as nossas dores. A minha ausência. Omissão de comparecimento; preciso afastar-me, pois já estive próximo por muito tempo. Preciso voltar ao padrão obscuro e suicida de minha usualidade. Uma pessoa de uma má índole como eu não pode amar, tampouco ser amado. Reciprocidade conturba meu sentimentalismo. O meu sentimentalismo apraza minha tão honrável salubridade.
Irei encobrir o final de meu veredito com a manifestação contundente de minhas últimas palavras: eu sempre estarei aqui, minha pequena.


Never thought you'd make me perspire. Never thought I'd do you the same. Never thought I'd fill with desire. Never thought I'd feel so ashamed. Never thought I'd have to retire. Never thought I have to abstain. Never thought all this could backfire, close up the hole in my vain.

Lose Yourself.